quinta-feira, 31 de julho de 2008

Mel de Moura Jorge



Há tempos encontrei na rua uma cachorrinha vira-lata e como era de costume logo cerreguei-a p'ra casa... Depois de cuidar dos cães eu sempre doava-os. Mas Mel ninguém quiz, talvez por que realmente ela era horrível. Pelos ela não tinha, também as orelhas só a metade... Muita, mas muita sarna e pulgas aos montes, Mel era só um reflexo do que deveria ser um cachorro... Amigos meus tinham pena, mas apostaram que uma semana a perrita não aguentaria.
Remando contra a maré, cuidei daquele bagaço que aos poucos tomou forma de minha cachorra favorita.

Mas é um animal muito ativo. Nada pode deixar ao seu alcançe porque nada resiste a sua curiosidade, e ela mastiga de meias e sapatos até panelas e vassouras...

Mudamos para um'outra casa com mais espaço p'ra ela e logo arrumei uns amigos para lhe fazer companhia... 'Contece que p'r'essas coisas de bom senso eu sou lerdo mesmo... Seus amigos eram um vira-lata com o triplo do seu tamanho (Ismael, o cão viciado em maracujá) e a bela Fayra (Rotweiller, mais pesada que eu O.o), esses dois, calmos como eles só, talvez não tenham suportado a hiperatividade de Mel... Várias vezes encontrava minha perra mancando ou sangrando.
O pior machucado dela conseguiu em uma vez que mordeu a orelhona de Fayra, a terrível, por despeito e falta de bom humor, deu-lhe uma leve mordida que abriu a cabeça do bebê Mel... Foi na Lua Balsâmica, e não acreditei quando minhas compressas de éther de alecrim(o maravilhoso) sanaram o ferimento de Mel em tres dias, os tres últimos dias da Lua Mingüante. Minha relação com os cães e ervas e luas vai muito além, então, dando continuidade à história:
Certa vez que cheguei da faculdade Mel havia roubado o lixo do vizinho e espalhado por toda a calçada do chalé, Fayra (A terrível) esperou que eu chegasse até o portão para que visse-a massacrando minha pobre cachorrinha... Assim o fez e com os dentes ensangüentados foi dormir embaixo da escada.
Entre lixo e sangue canino eu peguei minha Mel e já conformado levei-a p'ra dentro para, antes de enterra-la dar-lhe um banho.
23h30 Banho frio antes de cavar um buraco em baixo do azevinho onde enterraria a caixa de papelão com o corpo da Mel.

Mas antes resolvi usar o mesmo ungüento de alecrim para que o cheiro de sangue não impregnasse na terra e nas plantas...
00h00 Toda banhada de rosmarinus officialis já colocada em uma caixa de papelão forrada com tecido roxo e folhas verdes e flores amarelas MelMel suspirou, abriu um dos olhos e deu uma grande lambida na hematita que carregava em meu peito... Enquanto o alecrim secava Mel comeu a ração do gato, tomou leite com hortelã e um pouco assustada dormir para no outro dia continuar fazendo bagunça sem noçao de perigo.




Dizem que o cão adquire a personalidade do dono... 'Magina...